quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

NA ANTE SALA

T.  chegou no consultório cheio de bossa, desejava a todos um feliz 2011 !!! Ele olhou pra mim e me desejou o mesmo. Fiz apenas um gesto com a cabeça e dei um sorriso amarelo, afinal naquele dia estava para pouca conversa, queria ficar no meu canto até ser atendida pela minha terapeuta que era a mesma de T. Jeito de garoto, trajava bermuda, camiseta preta, chinelo e na cabeça, um boné, e muitas complicações que a vida lhe pôs à prova. T. falava pelos cotovelos, falou tanto que chegou a me irritar, mas nada comentei, apenas meu silêncio o incomodou. É, o silêncio é o idioma mais poderoso de todo o universo, nos faz pensar, nos faz refém de nós mesmos e  dos outros, revela o que e quem somos. Pois então, T. sentou bem ao meu lado, fiquei ouvindo sua prosa com a senhora que estava do outro lado, apurei  seu vocabulário, percebendo que era um garoto de vinte e poucos anos, inteligente, consciente de seus problemas, mas totalmente carcomido por situações que não ouso citar aqui.
 T. me surpreendeu também, apesar de estar em crise, pela leveza, pela incrível necessidade de sobreviver, de sentir-se vivo, de estar ali para curar-se de males que o afligem, de pensar em seu futuro. Foi quando T. virou-se pra mim com aqueles olhos castanho amendoados e começou a falar de gastronomia, de vinho, da sua vida e perguntou sobre a minha. Eu não me expus muito, mas o que mais me encantou naquele moço foi sua incrível vontade de viver.  Eu e T. nos tornamos ali, naquela hora, almas iguais. Senti-me um grão de mostarda, miúda, pequena diante dele, pois a gente pensa que os nossos problemas são os maiores, que a melhor grama é a do vizinho e ficamos frios diante dos problemas dos outros. Chegou a hora da minha sessão,depois de quarenta minutos, T. estava na ante sala, seria o próximo. Abri-lhe um belo sorriso e disse um tchau com a essência de um abraço. Desejo de coração que T. fique bom logo,logo.....

Suzana Prado
Jan/2011